CRÔNICA ESCRITA DE DOMINGO DO JORNALISTA PESQUEIRENSE WILIAM PORTO COPILADA DOS EU BLOG E POSTADA NESTE SITE COM AUTORIZAÇÃO DO MESMO.
HOJE TEM ESPETÁCULO?!!!
Como já disse neste espaço, fui um garoto doente, asmático, ainda hoje a asma me maltrata. No entanto, essa doença nunca me impediu totalmente de viver as aventuras da meninice.
E não estou arrependido de ter cometido alguns excessos que podem ter agravado a doença. Um desses esforços, não riam pelo amor de Deus, era cometido acompanhando pelas ruas da cidade, em meio à poeira, o palhaço dos circos. Só quem viveu os anos dourados. notadamente os anos 50, sabe o que significava para uma cidade do interior a chegada de um circo.Era uma festa! Um acontecimento! Um rebu! Era o assunto dominante na cidade durante toda a estada do circo.
O circo subvertia radicalmente os usos e costumes da cidade. Não estou exagerando: até novenas, reuniões da Igreja, sessões da câmara e etc e coisa e tal eram alterados devido aos espetáculos do circo.
A festa começava com o desfile do circo pelas ruas. Não havia parada de sete de setembro, chegada de governador, comício ou qualquer acontecimento que levasse tanta gente às ruas. O alvoroço era incrível. Aqueles carros com as artistas, algumas delas deixando as coxas à mostra, os trapezistas, palhaços, o carro dos animais,sempre havia um leão, às vezes um tigre, aquele desfile,camaradas, era impressionante, magnetizava e eletrizava as pessoas.
Nos dias seguintes, a propaganda do circo era feita pelos palhaços das pernas de pau. Por eles e pela molecada que os acompanhavam pelas ruas, a maioria sem calçamento. Sinceramente, ainda hoje não consigo entender como aqueles caras conseguiam andar tanto com aquelas pernas de pau. E o palhaço gritava: "Hoje tem espetáculo?". E a molecada respondia: "Tem sim senhor!". Então ele perguntava a hora e o local e a galera respondia na ponta da língua. Após a maratona vinha o prêmio: éramos marcados com cinza ou tinta no braço para poder entrar de graça no circo.
Mas alguns que não acompanhavam os palhaços, pulavam a cerca, um feito notável porque o patrulhamento do circo era rigoroso.
E a função, isto é, o espetáculo? Era indescritível. Eu sempre preferi o número do trapézio,aquele salto mortal, quando a trapeziasta dava aquelas voltas no ar e era segura pelo segundo trapezista, e me deixava com coração aos pulos.E o Globo da Morte? Era fantástico. A garota do arame,sempre muito bonita e frágil, era a namoradinha de todos os adolescentes.Um barato esse amor platônico.O mágico deslumbrava, o domador do leão era muito aplaudido. A gente nao sabia que o leão era velho e sem dentes. Pra que saber? E as rumbeiras? Eram elas quem nos iniciavam na descoberta daqueles razeres solitários. E os engolidores de fogo, o atirador de facas, os malabaristas, sem esquecer da anarquia,trombadas e piadas dos palhaços? E para coroar a noite havia um drama. Lebro-me de um circo que levou a peça Sansão e Dalila, as colunas que Sansão derrubava eram feitas de latas de Leite Ninho, mas o sucesso era absoluto, ninguém tinha nada contra o Leite Ninho.

O danado, camaradas, é que muitos amores, noivados, namoros antigos eram desfeitos por causa do circo. Ele inspirava paixões. Muitas noivinhas de aliança no dedo endoidavam por trapezistas, mágicos, toureiros, cantores, equilibristas e,não ram, porpalhaços metidos a Dom Juans. Era mesmo u mundo ágico o circo. e havia também os que endoidavam o cabeção pelas artistas do circo, alguns tentavam até a carreira circense, mas não foram bem-sucedidos.
Eu sei mesmo que os tempos mudaram, até mesmo o circo perdeu a sua força, hoje é tudo pela tevê e quem impera são as festas de massa. Mas há os que como eu ainda se recordam do passado, os que não se esquecem da pergunta do palhaço: "Hoje tem espetáculo?!!!". Ah,saudade, saudade tão grande, saudade... Socorro, ragam a minha bombinha.
P.S. O Blog só volta na terça-feira. Vou acompanhar um circo.
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